Nascido em Lisboa, em 1980, Filipe Bergaña cresceu no seio de uma família com possante espírito empreendedor.
O avô, emigrado da Galiza no pós-Guerra Social, abriu marisqueiras em Lisboa, enquanto os pais trouxeram de Paris o noção de boutique de voga feminina, tendo sido pioneiros no retalho de luxo em Portugal.
Filipe Bergaña licenciou-se em Economia pela Novidade School of Business and Economics, tendo seguido para Madrid, onde trabalhou durante três anos na Merrill Lynch Investment Managers.
Uma vez que a gestão dos portefólios estava centralizada em Londres, acabou por mudar-se para a capital britânica em 2006.
Construiu uma curso de duas décadas na gestão de ativos, tendo trabalhado em gigantes uma vez que a BlackRock e a Fidelity, antes de fundar a sua própria gestora, a W4i, ao lado do legendário investidor português Firmino Morgado, que foi seu mentor.
Até que, há muro de dois anos, oriente rebento de pai espanhol e mãe portuguesa decide voltar às suas raízes com um propósito simples: “Empreender, aplicando no setor privado a mesma disciplina de investimento e geração de valor que aperfeiçoei no mundo das empresas cotadas”, afirma Filipe Bergaña ao Negócios.
Mudou-se com a família, mulher e quatro filhos, para Madrid, onde reuniu 18 investidores na geração do “search fund” Audaz Capital, um fundo de “até 30 milhões de euros” que tem uma vez que objetivo identificar, comprar e gerir uma empresa privada na Península Ibérica.
O que é a Audaz Capital?
A Audaz Capital é um veículo de investimento criado para responder a um repto estrutural que afeta muitas PME na Península Ibérica: a renovação geracional. Há um número significativo de boas empresas familiares cuja perpetuidade fica comprometida pela escassez de sucessão procedente, colocando em risco anos de incremento e geração de valor.
A Audaz reúne 18 investidores com vasta experiência estratégica, financeira e operacional, alinhados num horizonte de investimento de longo prazo. Entre os seus investidores contam-se fundos de investimento, “family offices” e investidores particulares, todos com um compromisso geral: asseverar a perpetuidade e o incremento sustentável da empresa investida.
Padrão de compra ainda bastante incógnito em Portugal, o que é um “search fund”?
Um “search fund” é um veículo de investimento concebido para identificar, comprar e desenvolver uma empresa já estabelecida, acelerando o seu incremento ou tornando-a mais eficiente. O objetivo é dar perpetuidade a negócios sólidos e rentáveis, que muitas vezes enfrentam desafios de sucessão, garantindo a sua evolução sustentável.
Embora ainda relativamente incógnito em Portugal, trata-se de um padrão comprovado e com resultados excecionais. Criado há mais de quatro décadas na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, tem vindo a crescer globalmente de forma acelerada, atraindo investidores e empreendedores pela sua abordagem estruturada e disciplinada.
Ao contrário do padrão startup, onde a taxa de insucesso é elevada – muro de 90% das empresas não sobrevivem –, o padrão “search fund” foca-se em empresas consolidadas, com um resultado ou serviço validado e uma base de clientes firme, o que aumenta significativamente a verosimilhança de sucesso.
Fundo até 30 milhões com EBITDA de 1 a 5 milhões na mira
Qual é o perfil da empresa que procura?
A Audaz Capital procura uma empresa com um resultado ou serviço diferenciado, receitas recorrentes e uma sólida geração de caixa. Um elemento frequentemente ignorado – por ser dificilmente quantificável – mas crucial é o da cultura. Parafraseando o pensador de gestão americano Peter Drucker, “numa empresa, a cultura come a estratégia ao pequeno-almoço”.
Tão importante quanto a empresa em si é o setor em que opera. Privilegiamos indústrias com incremento estrutural, evitando negócios excessivamente cíclicos ou sujeitos a disrupções imprevisíveis. Aliás, procuramos um entorno competitivo saudável, onde seja verosímil solidificar uma posição de liderança sem depender exclusivamente de fatores externos voláteis.
E que tenha uma faturação de 10 a 30 milhões de euros e um EBITDA entre um e cinco milhões. No entanto, não é uma restrição rígida. Se surgir uma grande empresa com números supra desse pausa e um vendedor que se identifique com a proposta de valor da Audaz, os meus investidores e eu seremos, naturalmente, flexíveis.
Qual será o valor do fundo?
De até 30 milhões de euros.
Qual é o ponto de situação da procura da empresa a comprar?
Ao longo dos últimos oito meses de pesquisa, reunimo-nos com mais de 140 empresas, analisando diversas oportunidades sobretudo dentro dos setores industrial e tecnológico.
No setor industrial, os modelos de negócio são, em universal, fáceis de compreender, e algumas empresas revelam-se excecionais em termos de posicionamento e rentabilidade. Já no setor tecnológico, a estudo é mais complexa: há uma maior opacidade dificultando a compreensão dos modelos de negócio e, sobretudo, na avaliação da sustentabilidade da vantagem competitiva, quando esta existe.
Aproximadamente 15% das empresas contactadas são portuguesas e 85% espanholas, um rácio que reflete a diferença de dimensão do PIB entre os dois países.
Em Portugal, surpreende a possante predominância da atividade industrial no Setentrião, contrastando com um menor dinamismo no Sul (significativamente mais enviesado ao setor dos serviços).
Sobre as empresas que estão no radar, é maior a verosimilhança de a escolhida ser portuguesa ou espanhola?
A empresa a comprar ainda não está identificada, mas estamos atualmente a aprofundar relações com três potenciais contrapartes. Trata-se de uma decisão de enorme impacto para ambas as partes. É possivelmente a compra mais importante da minha vida e a venda mais importante da vida do empresário. Por isso, é fundamental que tomemos o tempo necessário para nos conhecermos verdadeiramente e construirmos uma relação de crédito.
Sob a inspiração da circum-navegação
Por que é que sediou a Audaz Capital em Madrid?
A minha pesquisa está orientada para encontrar e comprar uma empresa em Portugal ou Espanha.
Uma vez que rebento de pai espanhol e mãe portuguesa, o meu incremento esteve sempre marcado pelas duas culturas. Mudei-me com a minha família para Madrid porque em Espanha o universo de investimento é mais vasto, e porque a partir de Madrid consigo visitar presencialmente empresas em toda a Península Ibérica com maior facilidade.
No entanto, sou completamente agnóstico quanto ao lado da fronteira onde a empresa se encontra. Acredito muito mais nas semelhanças do que nas diferenças entre os dois países.
Por que não desenvolveu oriente projeto no Reino Uno? Viveu lá quase duas décadas…
Na verdade, nunca considerei essa hipótese. Para que oriente padrão funcione, tem de subsistir uma possante identificação entre o vendedor e o comprador porque, enfim, trata-se da perpetuidade do legado do empresário. Culturalmente, essa proximidade é muito mais procedente em Portugal e Espanha do que seria no Reino Uno.
Porquê Audaz?
O nome Audaz reflete as características que quero que oriente projeto inspire: coragem, ousadia e norma. Aliás, remete para a frota de expedição marítima liderada por Fernão de Magalhães e Juan Sebastián Elcano – um português e um espanhol, tal uma vez que o meu universo de pesquisa –, que completaram a viagem de circum-navegação, que considero a maior façanha de exploração da História.
Por término, seduziu-me a semiologia da vocábulo: escreve-se e tem o mesmo significado em português e espanhol, além de iniciar com “a” e terminar com “Z”, simbolizando um trajectória completo, do início ao término – exatamente uma vez que procuro fazer em tudo o que me envolvo.
A gestão em Espanha “tende a ser mais hierárquica e assertiva”
Na sua perspetiva, quais são as semelhanças entre boas empresas cotadas e privadas?
Foco no cliente – independentemente da graduação ou estrutura de capital, todas as boas empresas partilham um princípio fundamental: a satisfação de determinada premência do cliente. Na Audaz, cada reunião gira à volta da mesma premissa: O que distingue a sua empresa aos olhos do cliente?
E cultura de primazia – as empresas são feitas de pessoas, e tanto no setor privado uma vez que no mercado cotado destacam-se aquelas onde prevalece um envolvente de exigência, meritocracia e espírito de superação.
E o que é que as diferencia?
A profissionalização – nas empresas cotadas, predominam especialistas em cada superfície, com equipas altamente estruturadas. Já nas privadas, é geral encontrar uma arquitetura mais centralizada, onde os fundadores acumulam múltiplas funções, o que pode trazer flexibilidade, mas também desafios na delegação e (in)eficiência operacional.
E a digitalização – muitas empresas privadas ainda operam com sistemas zero ou pouco integrados onde prima a escassez de mecanismos de controlo, o que contrasta com a maior sofisticação tecnológica das empresas cotadas. Isso pode resultar em processos menos eficientes e mais dependentes de métodos tradicionais, impactando escalabilidade e produtividade.
E que vantagens competitivas têm as empresas privadas portuguesas num mercado globalizado?
Espírito empreendedor – as empresas portuguesas distinguem-se pelo arrojo dos seus empresários. Talvez impulsionados pela dimensão reduzida do mercado interno ou pelo legado expansionista do país, o empreendedor português não hesita em explorar novos mercados. Da minha experiência, diria que esta mentalidade é mais pronunciada do que aquela observada nas PME espanholas.
E a especialização – em setores uma vez que o têxtil, calçado ou nichos industriais, as empresas portuguesas mantêm um saber-fazer altamente técnico, que continua a ser um diferencial competitivo. A aposta em qualidade, inovação e flexibilidade produtiva permite que Portugal se mantenha relevante a nível global, mesmo perante a concorrência de mercados de maior graduação ou custos mais competitivos.
Pela sua experiência, quais são as grandes semelhanças entre a gestão portuguesa e a espanhola?
A possante relação interpessoal nos negócios – em ambos os países, a crédito e o “networking” desempenham um papel precípuo na tomada de decisões e na construção de parcerias. As relações empresariais são muitas vezes baseadas na proximidade e no tempo devotado à geração de laços sólidos.
E o foco na resiliência e adaptação – a capacidade de enfrentar crises económicas e ajustar-se a novos contextos é uma propriedade presente tanto em Portugal uma vez que em Espanha. O histórico de desafios económicos fez com que os gestores de ambos os países desenvolvessem desembaraço e pragmatismo na gestão.
E quais são as grandes diferenças?
A graduação e entrada ao mercado – o mercado espanhol, sendo significativamente maior, permite um incremento interno mais rápido. Em contrapartida, as empresas portuguesas tendem a procurar a internacionalização mais cedo, uma vez que forma de expandir as suas oportunidades.
E o estilo de liderança – em Espanha, a gestão tende a ser mais hierárquica e assertiva, com decisões concentradas nos níveis superiores. Em Portugal, predomina um padrão mais consensual e relacional, onde a negociação e o envolvimento das equipas são frequentemente valorizados.

