
“Estado Deve Assumir Papel Mais Activo na Economia” • Diário Económico
a d v e r t i s e m e n tMoçambique atravessa actualmente uma profunda crise económica e social, agravada significativamente pelas recentes manifestações pós-eleitorais, cujas consequências têm sido amplas e, na sua maioria, irreversíveis. Como resposta imediata aos danos causados por estes episódios, o Governo anunciou a criação de uma linha de crédito bonificada no valor de 156 milhões de dólares (10 mil milhões de meticais) destinada a apoiar empresas severamente afectadas pelas manifestações violentas registadas nos últimos meses de 2024.
Neste cenário crítico, o economista Oldemiro Belchior defende que o Estado “deve assumir um papel mais activo na economia, intervindo directamente para garantir estabilidade, estimular a recuperação económica e reduzir vulnerabilidades estruturais que ficaram evidentes com a crise actual.”
É neste contexto complexo que o economista decidiu intervir lançando uma análise detalhada, materializada no estudo “Visão Estratégica para a Recuperação Económica de Moçambique 2025-2030”. Assente num olhar atento do mercado e no seu percurso académico e profissional, o documento procura responder a uma pergunta central e urgente: “O que fazer no day after?”a d v e r t i s e m e n t
Fragilidades do modelo económico actualNeste sentido, Belchior é particularmente crítico quanto ao actual modelo económico do País, alertando que “a crise expôs claramente as vulnerabilidades do modelo de desenvolvimento económico neoliberal vigente, que minimiza o papel do Estado e exalta o mercado”. Esta fragilidade resultou em “completa dependência das cadeias de abastecimento externas, particularmente da África do Sul”, agravando desigualdades sociais e aumentando a marginalização dos sectores desfavorecidos.O economista propõe um conjunto de princípios estratégicos fundamentais. Segundo ele, o plano de recuperação deve combater “a desindustrialização acelerada e a subalternização da economia produtiva”, apostando decisivamente em “reconversão industrial, investimento em saúde pública, sector social, inovação tecnológica e uma luta efectiva contra a pobreza.”
O Governo anunciou a criação de uma linha de crédito bonificada no valor de 10 mil milhões de meticais destinada a apoiar empresas severamente afectadas pelas manifestações
Sectores prioritários para implementar estes princípiosBelchior sugere o “fortalecimento” de sectores tradicionais através da inovação tecnológica. Entre estes destaca a “agricultura, o agroalimentar, a indústria transformadora, a metalomecânica, a fabricação de máquinas, o turismo, os serviços e a energia”, que devem ser, diz, “alavancados para aumentar a competitividade internacional de Moçambique.”Neste plano estratégico, a modernização das infra-estruturas ocupa uma posição central. Belchior defende que uma “rede ferroviária moderna e eléctrica é essencial para posicionar Moçambique como plataforma logística estratégica, estabelecendo ligações eficazes com África e Europa”. Este desenvolvimento está intimamente ligado à reconversão industrial e à exploração sustentável dos recursos estratégicos nacionais.
Áreas industriais prioritáriasNeste âmbito, identifica áreas específicas que podem acelerar a recuperação económica: “indústrias da fileira florestal, aeronáutica, defesa, indústrias criativas, calçado e moda, recursos minerais estratégicos, smart cities, têxtil, engenharia, saúde, automóvel, agroalimentar, tecnologias de informação e comunicação, electrónica e turismo.”Na perspectiva de financiamento, Belchior sublinha o potencial de sectores estratégicos como “energias renováveis, mineração, petróleo e gás”. Recomenda igualmente parcerias internacionais sólidas com países tecnologicamente avançados, tais como “Alemanha, França, Estados Unidos, Canadá, Japão e Índia”, para dinamizar estes sectores e garantir investimentos externos sustentáveis.Apoio às PMECiente da importância das pequenas e médias empresas (PME) no tecido económico nacional, Belchior enfatiza que estas empresas “representam mais de 95% do tecido empresarial nacional e empregam mais de 75% da força laboral”. Defende, por isso, políticas claras e transparentes por parte do Estado, incluindo redução de encargos fiscais para aumentar a competitividade e assegurar empregos.Competitividade global e inovação tecnológicaEm termos tecnológicos, Belchior considera essencial a digitalização da economia, destacando que “inteligência artificial, ciência de dados, electrónica e impressão 3D serão decisivas para modernizar a indústria moçambicana, tornando-a competitiva globalmente.”Por outro lado, a agricultura é vista como um sector estratégico onde “a bioeconomia, sistemas eficientes de regadio, valorização de recursos endógenos e gestão sustentável da água” devem prevalecer. Belchior salienta ainda a importância de “incentivar jovens agricultores com infra-estruturas tecnológicas como fibra óptica em todo o território nacional”.Transição energéticaNo campo energético, Belchior é enfático ao defender a diversificação energética, promovendo investimentos estratégicos em “energia solar, eólica, biocombustíveis avançados, hidrogénio verde e armazenamento eléctrico em larga escala.”Finalmente, Belchior mostra-se optimista, afirmando que Moçambique “dispõe de recursos estratégicos que, explorados de forma sustentável e tecnológica, assegurarão um futuro económico próspero, respeitando rigorosamente os ecossistemas”.
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Texto: Felisberto Rucoa d v e r t i s e m e n t