Como Podem as Insurtechs Transformar o Sector de Seguros no País? Especialistas Respondem • Diário Económico

Durante o segundo dia do evento “Semana das Fintechs”, o painel intitulado “Seguros Digitais e Insurtechs: Transformando o Sector de Seguros” promoveu um debate inovador sobre o futuro dos seguros no País. Na ocasião, os intervenientes foram unânimes em afirmar que o ambiente regulatório ainda é desafiante para o surgimento e operacionalização de insurtechs (startups que usam tecnologia para inovar no sector de seguros), apontando ainda para dificuldades na obtenção de financiamentos.

No evento, que decorreu na tarde desta terça-feira, 18 de Março, Benedito Murambire, representante da Financial Sector Deepening Moçambique (FSDMoç), começou por fazer uma apresentação, na qual delineou a estratégia e o ‘roadmap’ para o desenvolvimento dos microseguros no País, uma área crucial para a expansão da inclusão financeira.a d v e r t i s e m e n t

Murambire apresentou uma estratégia de três vertentes para apoiar o sector de microseguros, com o objectivo de fomentar a inovação e a inclusão. “A primeira vertente é o envolvimento das partes interessadas no desenvolvimento do micro seguro, com destaque para a criação de uma unidade especializada. A segunda visa fortalecer a capacidade do Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique (ISSM) para promover e liderar este desenvolvimento. Por fim, a terceira vertente foca no aumento da capacidade dos operadores de micro seguros, visando melhorar a oferta de produtos acessíveis”, apontou.

O ‘roadmap’ apresentado pelo responsável está estruturado em quatro pilares essenciais: desenvolver produtos centrados no cliente (com foco em Design Humano e Inteligência Artificial); melhorar o acesso aos seguros, especialmente por meio de canais de distribuição alternativos; activar a procura latente por seguros, com iniciativas como a educação do consumidor e projectos ambientais; e, por último, criar políticas e regulamentos facilitadores, como a implementação de um ‘sandbox’ regulatório.

Desafios e obstáculos no caminho da inovação

Apesar das oportunidades oferecidas pelas novas tecnologias, Benedito Murambire destacou alguns dos desafios que podem retardar o avanço da inovação no sector dos seguros. Entre os principais obstáculos estão a burocracia e a falta de investimento em tecnologia, que dificultam a adopção de processos automatizados. Além disso, a regulamentação precisa de ser adaptada para apoiar o uso de Inteligência Artificial (IA), que pode gerar incertezas jurídicas e questões éticas, como o viés algorítmico. A fonte também enfatizou a necessidade de garantir acesso a dados confiáveis, uma infra-estrutura tecnológica robusta e o investimento necessário para que a IA seja eficaz.

Outro ponto crítico abordado foi o uso de tecnologias para promover seguros contra desastres e riscos climáticos, que poderiam proteger melhor os investimentos e fomentar a inclusão financeira em áreas mais vulneráveis, como as zonas rurais.

Colaboração entre insurtechs e seguradoras

No evento, Francisco Calvão, representante da Deloitte, discutiu como as insurtechs e as seguradoras podem colaborar para acelerar a inovação no sector. Calvão afirmou que o sector segurador precisa de ser mais ágil e aberto à tecnologia para fomentar a colaboração eficaz com as insurtechs. Para a fonte, o papel das insurtechs será cada vez mais crucial, não apenas para melhorar a eficiência dos processos, mas também para garantir maior penetração dos serviços nas zonas rurais.

Por sua vez, Isildo Massambo, da PIT Seguros, também partilhou a sua visão sobre como a tecnologia pode ser uma ferramenta poderosa para levar seguros a pessoas em áreas remotas e de baixa renda. “Temos de conhecer as reais necessidades das pessoas para poder desenhar produtos mais inclusivos, adaptados às condições de cada região”, afirmou, destacando que não se pode criar um produto em Maputo para ser aplicado nas zonas rurais sem levar em conta as especificidades locais.

Regulação e acesso ao financiamento

Durante o evento, a questão regulatória também foi um tema que mereceu atenção. Benedito Murambire apontou que, apesar de algumas melhorias no ambiente regulatório, o verdadeiro desafio ainda está na adaptação das insurtechs às normas existentes. Por outro lado, Isildo Massambo abordou a revisão da actual legislação, que já demonstra uma abertura para novos ‘players’ no mercado de seguros, o que pode facilitar o ingresso de empresas tecnológicas no sector.

Por sua vez, Francisco Calvão fez uma reflexão sobre a pressão que o regulador enfrenta. Sugeriu que, mais do que uma pressão vinda das autoridades reguladoras, a verdadeira pressão vem dos consumidores, cujas expectativas estão a mudar rapidamente. “A pressão do utilizador será o maior factor a motivar a regulação no sector, uma vez que o cliente demanda cada vez mais eficiência e inovação nos serviços”, concluiu Calvão.

Outro ponto destacado por Massambo foi o acesso ao financiamento, que continua a ser um grande desafio. O responsável mencionou que, embora o sector bancário seja uma via tradicional, o contexto económico actual tem dificultado a obtenção de recursos. A alternativa, como Massambo sugeriu, pode ser a procura por financiamento através da bolsa de valores.

O painel “Seguros Digitais e Insurtechs: Transformando o Sector de Seguros” evidenciou o papel fundamental das novas tecnologias na transformação do mercado de seguros no País. Com uma abordagem centrada no cliente, inovação tecnológica e adaptação regulatória, Moçambique tem grandes oportunidades para expandir a inclusão financeira e melhorar a protecção contra riscos climáticos e desastres naturais. A colaboração entre seguradoras tradicionais e insurtechs, aliada à evolução das políticas públicas, será essencial para o desenvolvimento sustentável deste sector.

Texto: Nário Sixpene