Como o Gana Transformou o Sector Financeiro Com FinTech • Diário Económico

No âmbito da Moçambique FinTech Week’25, realizada entre os dias 17 e 20 de Março, sob o lema “Regulamentação e Governação para um Ecossistema Financeiro Inovador”, Kwame Oppong, director de FinTech e Inovação no banco central de Gana, apresentou a trajectória do seu país na transformação do sistema financeiro através de soluções tecnológicas, com especial enfoque na inclusão financeira, na inovação e na governação institucional.

Na sua intervenção, Oppong recordou que o envolvimento do Gana com o ecossistema FinTech teve início nos primeiros anos da década de 2000, quando o banco central começou a antecipar a necessidade de preparar o país para um futuro digital no sector financeiro. “Começámos por estabelecer um sistema nacional de compensação e, com o tempo, integrámos o dinheiro móvel no nosso ecossistema”, explicou.a d v e r t i s e m e n t

Segundo o responsável, a digitalização da economia ganesa assentou em três eixos estratégicos: alargamento da inclusão financeira, criação de oportunidades de emprego e reforço da eficácia na transmissão da política monetária. “Muitos cidadãos não tinham acesso a serviços financeiros e, entre os que tinham, poucos dispunham de produtos adequados às suas necessidades do quotidiano”, observou.

Oppong destacou ainda que o sector FinTech tem vindo a impulsionar o surgimento de empresas inovadoras com potencial para gerar emprego qualificado. “À medida que crescem, estas startups passam a recrutar profissionais oriundos da banca e de sectores tecnológicos, o que eleva a qualidade do emprego e da remuneração”, referiu.

O dinamismo do sector digital permitiu ao Gana atrair investimentos significativos, ultrapassando, nalguns anos, os 100 milhões de dólares (6,3 mil milhões de meticais). Esta evolução foi alicerçada na interoperabilidade entre contas bancárias, carteiras móveis, identificação biométrica e infra-estruturas digitais de geolocalização e endereçamento.

Entre os serviços mais transformados, salientam-se os pagamentos electrónicos, as remessas internas e o crédito digital, bem como o acesso a produtos de investimento e de reforma. De acordo com Oppong, as remessas internas têm superado, em certos anos, os fluxos de investimento directo estrangeiro. “Em 2024, por exemplo, recebemos mais de 6 mil milhões de dólares (378 mil milhões de meticais) — o que representa um contributo expressivo para as nossas reservas cambiais”, assinalou.

As Fintechs estão a impulsionar a modernização financeira no Gana, mas dependem de avanços regulatórios e integração com políticas públicas

No domínio das pensões e do investimento, o país tem vindo a desenvolver mecanismos de inclusão para trabalhadores do sector informal. Produtos como o Treasury Bills for All, lançado em 2017, e plataformas como o People’s Pension Trust ou o MyPensions, resultam de parcerias entre instituições financeiras e empresas tecnológicas.

Estas iniciativas possibilitam o acesso a instrumentos de poupança e investimento por parte de agricultores, vendedores informais, taxistas e outros profissionais fora do regime contributivo tradicional. “Estes produtos desconstroem as barreiras de entrada, permitindo que mais cidadãos participem no sistema”, observou.

Kwame Oppong referiu também o papel crescente das novas tecnologias, como a inteligência artificial, o machine learning e a análise de grandes volumes de dados, no desenvolvimento de soluções adaptadas ao contexto africano. “Estas ferramentas permitem extrair conhecimentos profundos a partir de dados dispersos, ajudando-nos a fazer a transição para modelos mais inteligentes e eficientes”, disse.

No plano regulatório, o banco central de Gana adoptou uma abordagem baseada no risco, com o objectivo de equilibrar a promoção da inovação com a protecção do consumidor e a estabilidade do sistema. “Estabelecemos categorias diferenciadas de prestadores de serviços, ajustando os requisitos consoante o grau de risco que cada actividade representa”, explicou.

Assim, operadores com serviços básicos e baixo risco podem ser licenciados com exigências reduzidas, desde que operem através de entidades que cumpram padrões internacionais de segurança e resiliência, como a certificação ISO ou a conformidade com as normas PCI-DSS.

Em relação à governação, Oppong reconheceu que muitos empreendedores negligenciam inicialmente este aspecto. “É comum que as startups não valorizem estruturas como conselhos de administração ou funções autónomas de controlo interno na fase inicial do negócio”, afirmou.

Contudo, sublinhou que as empresas que adoptam boas práticas de governação são, invariavelmente, as mais sustentáveis e bem-sucedidas. “A nossa experiência mostra que estas são as entidades mais conformes e as que apresentam melhor desempenho no sector”, referiu.

No encerramento da sua intervenção, o director deixou uma mensagem dirigida directamente aos fundadores de empresas FinTech: “Se não houver outra voz que não a vossa no desenvolvimento do negócio, não existirá nenhuma barreira que vos proteja de vós próprios. A confiança é o activo mais importante no sector financeiro e deve ser construída desde o primeiro dia.”

A Moçambique FinTech Week’25 terminou a 20 de Março, com sessões presenciais que consolidaram o diálogo entre reguladores, empreendedores, investidores e académicos, em torno da construção de um ecossistema financeiro digital, robusto, inclusivo e sustentável.

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