Decorreu, na manhã desta quinta-feira, 21 de Agosto, o lançamento da edição de 2025 do Relatório de Desenvolvimento Humano, sob o título “Uma questão de escolha: Pessoas e Possibilidades na Era da Inteligência Artificial.”
De acordo com o estudo, apresentado por Alexandra Antunes, representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o crescimento do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em 2024, fora os anos críticos da pandemia (2020-2021), foi o mais fraco desde 1990, sendo que Moçambique está na 12.ª posição entre os menos desenvolvidos, num universo de 193 países, num contexto em que 65 % da população vive em situação de pobreza.
No entanto, o “relatório enfatiza a questão da Inteligência Artificial como uma ferramenta poderosa para ajudar-nos a recuperar. E convida-nos a considerar escolhas no sentido de percebermos se devemos aceitar a narrativa de que é a tecnologia que deve moldar o nosso futuro ou se devemos usar a mesma de forma a podermos escolher o futuro que queremos”, explicou a representante do PNUD, destacando a necessidade de construir uma economia de complementaridade.
Segundo o relatório, seis em cada dez pessoas acreditam que a Inteligência Artificial terá um impacto positivo nas suas vidas profissionais, e a maioria espera usá-la em breve em sectores como o da educação, saúde e trabalho.
O ministro da Planificação e Desenvolvimento, Salim Valá, afirma que o relatório é um convite à acção colectiva, à renovação do compromissos para a construção de um futuro mais justo, mais humano e mais sustentável para Moçambique
Durante o evento, o ministro da Planificação e Desenvolvimento, Salim Valá, afirmou que o desafio central é garantir que a IA amplie as capacidades humanas e promova inclusão, em vez de aprofundar desigualdades e ameaçar a autonomia das pessoas.
“Este relatório não é apenas uma chamada de atenção global — é um espelho que reflecte os desafios e as possibilidades de Moçambique. E o que nele se lê encontra ressonância directa nos nossos instrumentos de planeamento nacionais. A Estratégia Nacional de Desenvolvimento (ENDE 2025-2044) e o Programa Quinquenal do Governo (PQG 2025-2029) não apenas reconhecem os mesmos riscos, como os transformam em metas concretas, estruturadas e mensuráveis. Ambos assumem que o progresso não será espontâneo: exige escolhas corajosas, coordenação intersectorial e mobilização colectiva. A ENDE projecta uma elevação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,46 para 0,74 até 2044, sinalizando um compromisso de longo prazo com a dignidade, a equidade e a inclusão, sublinhando que o caminho já começou, mas o jogo será disputado no longo prazo e o percurso é sinuoso”, destacou o governante.
Segundo o relatório, seis em cada dez pessoas acreditam que a Inteligência Artificial terá um impacto positivo nas suas vidas profissionais, e a maioria espera usá-la em breve em sectores como educação, saúde e trabalho
O ministro realçou ainda que o Governo vai continuar a investir na inclusão digital, na capacitação da juventude e na promoção de um espírito empreendedor, na inovação institucional e complementaridade entre pessoas e tecnologia.
Edno Stork, representante do PNUD, afirma que o desenvolvimento humano vai além do dinheiro: mede-se pela saúde, pela educação e pelas oportunidades que cada pessoa tem para construir a vida que deseja. Stork sublinha que a Inteligência Artificial já faz parte do nosso dia-a-dia e pode ser uma grande aliada no desenvolvimento. Pode transformar sectores como a saúde, a educação, a administração pública e ajudar no combate à desinformação.
“Em Moçambique, já usamos a IA para verificar assinaturas de partidos, monitorar discurso de ódio e apoiar o diálogo nacional. Sei que existem receios de que a IA substitua o ser humano, mas o mais importante é garantir a regulação, o respeito à privacidade e políticas claras que assegurem um uso responsável. O objectivo não é criar novos riscos, mas acelerar o desenvolvimento e abrir novas oportunidades”, sublinhou.
O PNUD defende uma abordagem da IA que seja centrada nas pessoas, com foco em três pontos principais:
Colaboração: promover a parceria entre humanos e máquinas;
Inclusão: garantir que as vozes humanas sejam consideradas em todas as etapas do desenvolvimento tecnológico;
Modernização: actualizar os sistemas de educação e saúde para que possam se adaptar aos desafios actuais.
Por sua vez, o reitor da Universidade Pedagógica de Maputo, Jorge Ferrão, destacou que este é um espelho que nos obriga a olhar para o caminho percorrido e a questionar para onde vamos como nação. Se não a enquadrarmos nas nossas necessidades e cultura, seremos apenas consumidores passivos. “Vemos riscos, como o uso de IA por estudantes em trabalhos finais, mas também grandes oportunidades: apoiar o ensino, a saúde, a agricultura, dar voz às comunidades e abrir horizontes para jovens e idosos”, revelou.
Ferrão “destaca que precisamos de regras claras, de uma política nacional bem definida e de professores capacitados para orientar o uso da IA como instrumento de aprendizagem e não como substituto da criatividade. O desenvolvimento humano deve libertar capacidades, e a Inteligência Artificial deve expandir a nossa mente, não atrofiá-la”, concluiu.
O relatório aponta a IA como um farol de oportunidades assim como um espelho das desigualdades existentes. O seu futuro dependerá de escolhas políticas e sociais deliberadas que assegurem um uso justo, ético e inclusivo da tecnologia.
Texto: Ana Mangana
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