advertisemen tA semana trouxe novos sinais de fragilidade económica em Moçambique, com o Instituto Nacional de Estatística (INE) a confirmar quatro trimestres consecutivos de recessão e o Banco Mundial a alertar que o País lidera os rankings globais dos encargos com juros da dívida externa em relação às exportações e ao Rendimento Nacional Bruto (RNB). Em contrapartida, o índice PMI do Standard Bank manteve-se acima da linha dos 50 pontos em Novembro, sugerindo algum dinamismo empresarial, enquanto o crédito à economia voltou a aproximar-se de máximos históricos em Setembro. PIB recua 1,89% e o País soma um ano de recessão O INE confirmou que a economia moçambicana registou uma contracção de 1,89% nos primeiros nove meses de 2025, acumulando quatro trimestres consecutivos de crescimento negativo. No terceiro trimestre, o Produto Interno Bruto caiu 0,85% em termos homólogos, prolongando a trajectória recessiva que se iniciou no último trimestre de 2024.advertisement A maior pressão veio do sector secundário, que recuou 10,63%, penalizado pela queda acentuada na produção e distribuição de electricidade, gás e água (-31,39%) e na indústria transformadora (-4,08%). O sector terciário registou igualmente um desempenho negativo (-1,51%), afectado por quebras em hotéis e restauração (-6,12%), comércio e reparação (-5,20%) e transportes e comunicações (-3,30%). Apenas os serviços financeiros apresentaram crescimento (1,47%). O Governo reviu em baixa a previsão de crescimento económico para 2025, passando de 2,9% para 1,6%, e anunciou cortes em projectos de investimento não prioritários. Para 2026, prevê-se um crescimento de 2,8%, assente no dinamismo dos serviços, no agrário, nas exportações de gás natural liquefeito e em investimentos estratégicos no sector da energia. Moçambique lidera ranking mundial dos países que mais pagam juros face às exportações O Relatório da Dívida Internacional, publicado esta semana pelo Banco Mundial, colocou Moçambique no topo do ranking global dos países que mais pagaram juros da dívida externa em proporção às receitas de exportação em 2023 e 2024. O País surge igualmente entre as economias com o rácio mais elevado entre os encargos da dívida e o Rendimento Nacional Bruto, revelando um desequilíbrio estrutural entre a economia real e os compromissos financeiros externos. Segundo o relatório, entre 2022 e 2024 os países em desenvolvimento pagaram cerca de 49,4 biliões de meticais em juros e amortizações — montante superior ao valor recebido em novos financiamentos — configurando o maior défice líquido em mais de meio século. O Banco Mundial alerta que, apesar de uma ligeira melhoria das condições financeiras internacionais, os países de baixo rendimento “não estão fora de perigo”, sublinhando que a acumulação de dívida continua a aumentar e exige prudência na gestão orçamental. Moçambique está entre os 78 países elegíveis para o financiamento da Associação Internacional de Desenvolvimento (IDA), cuja dívida conjunta ascendeu a 80,1 biliões de meticais no último ano. Os encargos com juros absorveram 27,6 biliões de meticais em 2024, valor considerado desproporcional face às necessidades sociais urgentes, como educação, saúde primária e infra-estruturas. Em sentido inverso, o Banco Mundial canalizou, só em 2024, 1,2 mil milhões de meticais a mais do que recebeu em pagamentos e juros, além de 500 mil milhões de meticais em donativos. Moçambique está entre os 78 países elegíveis para o financiamento da Associação Internacional de Desenvolvimento (IDA) PMI mantém-se acima dos 50 pontos e actividade empresarial regista novo impulso Apesar do ambiente macroeconómico recessivo, o índice PMI do Standard Bank manteve-se em terreno positivo pelo segundo mês consecutivo, atingindo 50,8 pontos em Novembro. O indicador reflecte melhorias na produção, nas novas encomendas e no emprego, num contexto de maior procura e lançamento de novos produtos no mercado. As novas encomendas cresceram ao ritmo mais forte dos últimos 17 meses e a criação de postos de trabalho registou o nível mais elevado desde Julho de 2024. As empresas, contudo, reforçaram a prudência na gestão de inventários, reduzindo ‘stocks’ pelo sétimo mês consecutivo. Fáusio Mussá, economista-chefe do Standard Bank Moçambique, alertou que a possível suspensão das operações da Mozal em 2026 continua a ser um risco significativo, com potenciais impactos negativos nas finanças públicas, no crescimento económico e na disponibilidade de divisas. Crédito à economia aproxima-se de máximos históricos O crédito à economia voltou a crescer em Setembro, aproximando-se de um novo máximo dos últimos anos. O stock total atingiu cerca de 292,4 mil milhões de meticais, um aumento de 1% face a Setembro de 2024 e muito próximo do pico de 292,8 mil milhões registado em Maio deste ano. O crédito a particulares manteve-se como o principal motor, fixando-se em 101,1 mil milhões de meticais, o que demonstra a procura contínua por financiamento por parte das famílias. Seguem-se o comércio (24,8 mil milhões de meticais), os transportes e comunicações (24,9 mil milhões de meticais) e a indústria transformadora (21,7 mil milhões de meticais). A Associação Moçambicana de Bancos anunciou a redução da ‘prime rate’ para 15,80% em Dezembro, após sucessivos cortes ao longo de 2024. No entanto, o governador Rogério Zandamela voltou a alertar para o agravamento do endividamento público interno, um factor que afecta o normal funcionamento do mercado financeiro e exige medidas que reforcem a estabilidade económica e o controlo da inflação. Texto: Felisberto Rucoa dvertisement

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