advertisemen tA semana ficou marcada pelo reforço dos alertas sobre os desafios macroeconómicos de Moçambique. Entre a urgência de financiar a adaptação climática, o aumento das necessidades de endividamento público e a persistente escassez de divisas, o País enfrenta uma conjuntura em que as pressões externas e fiscais se cruzam com riscos sociais de longo prazo. Financiamento climático exige 37,2 mil milhões de dólares O Governo alertou que Moçambique necessita de cerca de 37,2 mil milhões de dólares para “alcançar a resiliência climática” até 2030, sob risco de mais 1,6 milhão de pessoas caírem na pobreza até 2050. A estimativa consta da Estratégia Nacional de Financiamento Climático (ENFC) 2025-34, recentemente aprovada.advertisement Segundo o documento, apenas para cumprir a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) 2.0, o País precisa de 7,6 mil milhões de dólares entre 2021-25, estando previsto mobilizar apenas 24% desse valor até finais de 2025. O Executivo avisa que a transição para a NDC 3.0 elevará ainda mais as necessidades, apontando a urgência de mecanismos eficientes para captar financiamento internacional. O relatório destaca igualmente a vulnerabilidade crescente do País perante fenómenos extremos. Nos últimos cinco anos, ciclones e cheias causaram mais de mil mortes e afectaram perto de cinco milhões de pessoas, reforçando o peso económico da adaptação climática. Dívida pública exige novas emissões e consultoria internacional No domínio das finanças públicas, o Ministério das Finanças revelou que o Estado emitiu 3,5 mil milhões de dólares em Bilhetes do Tesouro nos primeiros nove meses deste ano, sobretudo para substituir dívida anterior. O Governo fixou para 2025 um limite de até 505 mil milhões de meticais para novas emissões, um aumento de 84% face a 2024. Com pressões sobre o défice e a fraca execução da receita fiscal, o Executivo decidiu contratar a consultora norte-americana Alvarez & Marsal, responsável por processos de reestruturação de grandes corporações internacionais, para apoiar na elaboração da estratégia nacional de gestão da dívida a partir de 2026. A decisão surge num contexto de crescente preocupação com o ritmo do endividamento. O governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, voltou a alertar que a dívida pública “não pode continuar a crescer”, sob risco de comprometer a estabilidade económica. Escassez cambial agrava o mercado de divisas Dados do Banco de Moçambique mostram que as vendas de divisas pela banca comercial recuaram 18% no terceiro trimestre, para 97,5 mil milhões de meticais, interrompendo a tendência de crescimento registada no trimestre anterior. Em sentido inverso, as compras de divisas aos clientes aumentaram 12%, totalizando 126,4 mil milhões de meticais. Pela primeira vez este ano, os bancos compraram mais moeda estrangeira do que venderam, num cenário de restrições cambiais que tem afectado sobretudo empresas ligadas ao comércio externo. A queda acentuada das operações no mercado interbancário — menos 67% face ao ano passado — evidencia a fraca circulação de divisas na economia. O BdM adoptou recentemente medidas adicionais, incluindo a obrigatoriedade de conversão mínima de 50% das receitas de exportação e a redução do limite de retenção diária de divisas pelos bancos, com o objectivo de aliviar a pressão sobre o mercado. Crime organizado pressiona ambiente de negócios Moçambique está entre os países com maior exposição ao crime organizado em África, segundo o “Africa Organized Crime Index 2025”, que coloca o País na oitava posição entre as economias com criminalidade mais elevada e resiliência reduzida. O relatório, divulgado em Nairóbi, alerta que a deterioração dos mecanismos de resposta pode afectar o investimento, o comércio transfronteiriço e a segurança regional, num momento em que o País procura recuperar ritmo económico. A presença de uma equipa da Interpol, que coordena uma operação simultânea com outros países da África Austral, visa travar redes que actuam no tráfico de seres humanos, drogas e migração ilegal. As autoridades moçambicanas afirmam que o impacto das acções será avaliado no final da operação, sublinhando que o crime transnacional tem efeitos directos na competitividade e estabilidade económica. Texto: Felisberto Rucoa dvertisement

