“Não se pode passar um único dia sem ter impacto no mundo que nos rodeia. O que fazes faz a diferença, e tens de decidir que tipo de diferença queres fazer.” — Jane Goodall (tradução livre) A vida e a obra de Jane Goodall são um testemunho poderoso do impacto que uma visão clara pode ter no mundo. Ao dedicar-se à investigação e proteção dos chimpanzés e dos ecossistemas, Goodall transformou a nossa compreensão da relação entre os seres humanos e a natureza. O seu percurso mostra que, quando as ações são orientadas por um propósito, o impacto transcende o indivíduo e gera mudança coletiva. Para as empresas, esta reflexão é igualmente essencial. Tal como cada pessoa, também cada organização exerce diariamente influência sobre o planeta e a sociedade. A questão é: em que direção segue essa influência? É aqui que entra o propósito corporativo. Mais do que uma declaração inspiradora, o propósito deve ser a estrela polar que orienta as decisões estratégicas e define prioridades de ação. É a partir do propósito que as empresas decidem que tipo de diferença querem fazer, transformando intenções em resultados concretos. Seguindo o seu exemplo, olhamos para o contexto do ODS 15 – Proteger a Vida Terrestre, uma reflexão que já não pode ser adiada. A perda de biodiversidade coloca riscos materiais para os negócios, desde a instabilidade nas cadeias de abastecimento à escassez de recursos naturais críticos. Tal como destacado num recente Relatório da BCG, este não é apenas um desafio ambiental, mas uma crise empresarial: mais de metade do PIB mundial depende da natureza, e a sua degradação expõe as empresas a custos crescentes, pressões regulatórias e riscos reputacionais. Contudo, quem agir cedo poderá transformar a gestão da biodiversidade num motor de resiliência, inovação e vantagem competitiva a longo prazo. Simultaneamente, abre-se caminho a oportunidades de parceria e a uma criação de valor reforçada com clientes, investidores e comunidades. Integrar a biodiversidade no propósito corporativo significa reconhecer, desde o início, que a criação de valor duradouro depende da preservação do capital natural que o sustenta. O Grupo Altri oferece um exemplo claro de como o investimento na biodiversidade pode abrir novas oportunidades para os negócios e para a sociedade. Ao integrar a gestão florestal com atividades de valor acrescentado, a Altri desenvolveu projetos inovadores como a utilização de cabras na gestão de combustível e na prevenção de incêndios, a produção de mel de eucalipto certificado FSC através de apiários monitorizados, e o apoio a apicultores locais com terrenos e boas práticas. Estas iniciativas reforçam a resiliência dos ecossistemas e reduzem riscos ambientais, geram novas fontes de receita, fortalecem as relações com as comunidades locais e constroem uma marca mais sustentável. A Altri demonstra como a biodiversidade pode ser transformada de um custo percebido numa fonte de inovação, competitividade e valor a longo prazo. Seguir o exemplo de Jane Goodall significa reconhecer que todos os dias fazemos escolhas. Para as empresas, essas escolhas refletem-se em políticas, investimentos, produtos e relações. O propósito funciona como uma bússola, alinhando essas escolhas com um impacto mais elevado, que cria valor acrescido tanto para a empresa como para a sociedade. Assim, trata-se de mitigar riscos, mas é mais do que isso: trata-se também de construir um futuro onde os negócios e a natureza possam prosperar lado a lado. Em última análise, o desafio é claro: cada empresa deve decidir que tipo de diferença quer fazer. O propósito dá a resposta e a estratégia transforma essa resposta em realidade.