Futuro da agricultura desenha-se entre secas e tempestades – Sustentabilidade

Em Trás-os-Montes, em 2023, tempestades com granizo e chuva intensa destruíram vinhas e olivais.Com cada vez mais frequência, o Estado é chamado a apoiar os agricultores portugueses na sequência de fenómenos climáticos extremos. Há poucas semanas, o rasto de estragos deixado pela depressão Martinho levou o Governo demissionário a anunciar apoios às explorações agrícolas com perdas superiores a 30%, mas este é apenas um remendo para um problema maior.Até ao final deste século, as previsões científicas apontam para uma redução significativa da precipitação e um aumento considerável na frequência e intensidade das ondas de calor e períodos de seca. É preciso, nesta corrida contra o tempo imprevisível das alterações climáticas, assegurar que a agricultura portuguesa é capaz de se adaptar e de mitigar os efeitos desta mudança. E é isso que está a acontecer, garante o secretário-geral da CAP – Confederação de Agricultores de Portugal.”Se há setor que nota logo as alterações climáticas é, sem dúvida, a agricultura”, aponta Luís Mira, que lembra como as vindimas deixaram de ser em outubro para, em alguns casos, começarem ainda em julho. “Os agricultores dependem das condições climatéricas, da chuva, da temperatura. Um elemento essencial é a adaptação”, sublinha.Em Trás-os-Montes, em 2023, tempestades com granizo e chuva intensa destruíram vinhas e olivais, tendo causado perdas de colheita acima dos 70% em vários casos. Mas também em 2018, aquando da tempestade Leslie, os prejuízos agrícolas atingiram 30 milhões de euros nos distritos de Leiria, Coimbra, Aveiro e Viseu. “Esta não é uma questão de combate às alterações climáticas, é mitigação”, insiste Luís Mira.Firmino Cordeiro, presidente da AJAP – Associação de Jovens Agricultores Portugueses, reconhece que as alterações climáticas “estão aí e são uma realidade” com tendência para se intensificar, mas recusa, ainda assim, que esse seja o grande desafio da agricultura nacional. “O maior problema sempre foi em vender o melhor possível aquilo que produzimos”, diz, acrescentando, no entanto, que “cada vez mais há problemas associados aos excessos” de calor e seca, bem como de chuva e vento a mais. “É preocupante”, admite, e lembra que seria importante rever o acesso dos agricultores aos seguros.”Não temos um sistema de seguros agrícolas muito funcional. Temos o seguro de colheitas e outros, é verdade, mas era importante que os agricultores tivessem mais soluções para estas questões das alterações climáticas”, defende Firmino Cordeiro. O Estado subsidia cerca de 60% do custo dos seguros de colheitas para culturas temporárias, mas ainda assim os custos são vistos pelo setor como elevados e como um entrave a maior acesso.

80%Perdas
Desastres naturais ligados a fenómenos meteorológicos extremos na Europa geram perdas de 80%.

Apesar da escassez de água em algumas regiões, das geadas intensas e das temperaturas imprevisíveis, os agricultores portugueses têm procurado soluções para adaptar as suas explorações à nova realidade. Na Cova da Beira, por exemplo, já se combate a geada que afeta as produções de pêssego e cereja, usando tecnologia e ciência, além de canhões anti granizo.”A utilização de sensores agrícolas nos solos, ligados a estações meteorológicas, que permitem regar de acordo com a necessidade e tendo como principal foco evitar o stress hídrico; assim como a agricultura de precisão, com a sementeira guiada por GPS, são alguns exemplos de novas práticas”, elenca Luís Mira. A tecnologia é hoje a principal ferramenta agrícola, que permite ganhar eficiência, cortar custos e ‘controlar’ os efeitos negativos da meteorologia na rentabilidade das produções.”Em alguns casos, o respeito dos agricultores pelo ambiente é uma força de vendas. Os produtores de carne de Montemor têm uma entidade certificadora de que a carne é produzida com emissão zero e fazem disso uma força de venda”, exemplifica o secretário-geral da CAP. A proteção do solo, a gestão racional da água ou o fomento da biodiversidade nas culturas são, também, um investimento na competitividade e sobrevivência a longo prazo. “É uma vantagem competitiva”, sublinha.Em período de eleições legislativas, Luís Mira diz que é preciso replicar bons exemplos de políticas públicas, como o incentivo à sementeira direta, e sobretudo reforçar a capacidade de resposta do Ministério da Agricultura. “O ministério tem tido imensos problemas de funcionamento”, diz, pedindo também mais “defesa da política agrícola comum em Bruxelas”. Já Firmino Cordeiro pede apenas que “quem venha olhe para o que está feito com olhos de ver, corrija o que possa ter correções, mas que aproveite o bom que já está feito”, referindo-se, por exemplo, ao pacto da água (ver texto ao lado). “Temos de apostar no setor, senão ele perde-se”, remata.

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