
Especialistas Defendem Uma Transição Energética Moldada à Realidade Moçambicana • Diário Económico
A 4.ª Conferência Empresarial Renováveis em Moçambique (RENMOZ-2025) teve uma sessão dedicada ao segundo pilar da Estratégia de Transição Energética (ETE): a industrialização verde. O painel contou com intervenções de representantes do Governo, do sector privado, da juventude e de instituições de financiamento, que defenderam a necessidade de uma abordagem adaptada à realidade nacional no processo de transição energética.
A sessão foi moderada por José Mestre, coordenador nacional do programa europeu GET.invest, que destacou a missão do mesmo no apoio à bancabilidade de projectos: “Estamos cá há cinco anos com o apoio da União Europeia e da Alemanha para garantir que os projectos de energias renováveis em Moçambique se tornem financeiramente viáveis.”
Na ocasião, Leo Elias Jamal, secretário de Estado para o Ensino Técnico, detalhou os avanços estruturais na formação profissional em áreas ligadas à energia: “Temos uma arquitectura curricular que vai do nível 1 ao 5 dos certificados vocacionais. Já no nível 2 desenvolvemos currículos específicos para energias renováveis, com apoio da GIZ e do sector privado nacional. A nossa prioridade é alinhar a formação técnica com as exigências reais do mercado.”
Por sua vez, Honório Manuel, presidente do conselho de administração da MozParks, apelou à transformação local dos recursos como base do desenvolvimento sustentável: “Continuar a exportar em bruto é o mesmo que não ter nada. A industrialização verde passa pela produção com energia limpa. No Parque Industrial de Beluluane, contribuímos com 24% das exportações do País e já temos autorização para projectos de energia solar até 130 megawatts, combinando com a energia da EDM para aumentar a competitividade.”
Da empresa alemã ENTERIA, Marc-Oliver Bruckhaus, director-geral, sublinhou a importância da inovação e da flexibilidade nos modelos de negócio de energia solar industrial: “Os nossos projectos são orientados por um modelo ‘triple bottom line’: energia limpa, impacto social e responsabilidade ambiental. Utilizamos tecnologia robusta com semicondutores de carboneto de silício e damos prioridade à integração de sistemas e comunicação em tempo real.”
Outro dos participantes, Samuel Samu Gudo, vice-presidente da AIMO, chamou a atenção para a desigualdade de condições entre grandes projectos e pequenas empresas: “A transição energética está a ocorrer a duas velocidades. As grandes empresas conseguem adaptar-se. As PME, por sua vez, enfrentam dificuldades de financiamento, obsolescência tecnológica e falta de assistência técnica. Precisamos de políticas diferenciadas e instrumentos concretos para apoiar estas empresas.”
Finalmente, Vanessa Mutéia, directora de operações da Fundação MozYouth, apresentou a perspectiva da juventude moçambicana, maioritária na população nacional: “Moçambique não pode ser visto com os mesmos olhos que os países desenvolvidos. Aqui, a transição energética é uma oportunidade de electrificar com responsabilidade desde o início. Mais de metade da população tem menos de 17 anos e será quem viverá as consequências das decisões que tomarmos agora. Por isso, a sua voz tem de estar presente.”
Sobre o evento
A sessão fez parte do programa da 4.ª Conferência Empresarial Renováveis em Moçambique (RENMOZ-2025), que, ao longo de dois dias, reuniu decisores governamentais, reguladores, investidores, representantes de agências de cooperação, instituições financeiras internacionais, empresas do sector energético e especialistas nacionais e estrangeiros. O evento em Maputo teve como objectivo central impulsionar a transição energética no País, alinhando prioridades políticas, instrumentos regulatórios e modelos de financiamento.
Esta edição marcou ainda a apresentação oficial da estratégia de transição energética de Moçambique, e promoveu discussões em torno de eixos estruturantes como a industrialização verde, a mobilidade sustentável, o acesso universal à energia moderna e a expansão das mini-redes e soluções de cozinha limpa. As sessões foram marcadas por intervenções técnicas e partilha de experiências e construção de consensos estratégicos entre os diferentes actores envolvidos na transformação do sistema energético nacional.
Texto: Felisberto Ruco