
As últimas fábricas de vinil, cassetes e CD em Portugal – Weekend
“Como é que eu hei de me ir embora? Com as perninhas todas à mostra e os marmelinhos quase de fora”, canta Nel Monteiro no êxito “Azar na Praia”, campeão de vendas nos anos 1980, quando o país negoceia a entrada na Comunidade Económica Europeia (CEE) e, no Porto, a Edisco fabrica “um milhão de cassetes por ano”, principalmente de música popular portuguesa. “Fast forward” até 2025 e a empresa, agora na Maia, é a única em Portugal que se dedica à duplicação de cassetes. Por ano, 200 mil, que seguem, 90%, para exportação.Na última década e meia, o negócio refloresceu, por nostalgia e por uma espécie de colonização do formato. Já não são os artistas pimba e o grande público que mais o procuram a pretexto de canções com letras marotas, mas, em vez deles, um nicho de melómanos colecionadores e bandas de indie rock, metal, noise e música eletrónica, que se entusiasmam com raridades analógicas.Inicialmente disponibilizada pela Phillips, a cassete existe desde o ano em que os Beatles lançaram o primeiro álbum (1963) e por estes dias oferece uma qualidade de som “muito superior” em comparação com o final do século, assegura Armando Cerqueira, sócio da Edisco. Uma bobina tem três quilómetros de fita magnética importada de França em que se grava a partir do áudio original, o master. Depois de cortada de acordo com a duração dos registos sonoros, é usada para encher um número variável de cópias até ao máximo de 47 minutos em cada lado. Os chassis, de plástico, vêm de Itália.