
Há dez anos que detesto o mês de fevereiro
O jornalista anglo-russo e crítico do Kremlin, Vladimir Kara-Murza, recordou, esta quinta-feira, o “amigo” Boris Nemtsov, no dia em que se assinala o 10.º aniversário do assassínio do opositor russo, e questionou “como seria o mundo se o seu maior país tivesse um sido liderado por um homem com o objetivo principal de ‘viver numa Rússia livre, europeia e democrática'”.
Numa longa publicação na rede social X, Kara-Murza recordou que “Boris Nemtsov e Vladimir Putin chegaram ao mais alto poder federal no mesmo mês, em março de 1997 – Nemtsov como vice-primeiro-ministro, Putin como chefe adjunto da administração presidencial”.
No entanto, enquanto Nemtsov era um “político brilhante”, com “experiência na tribuna parlamentar” e ” reputação de ser o governador mais bem sucedido da Rússia moderna”, Putin era um “antigo oficial do KGB” e “um funcionário normal que evitava a publicidade e subia lentamente na carreira”.
Ainda assim, a popularidade de Putin foi aumentando e foi eleito presidente da Rússia em 2000, mas Nemtsov “ficou e decidiu lutar”.
“Opôs-se a Putin desde o início da sua presidência, ou mesmo antes: em março de 2000, recusou-se a apoiar a candidatura do sucessor do Kremlin às eleições”, lembrou Kara-Murza.
O opositor russo foi também responsável por organizar “milhares de manifestações de protesto”, a última sendo em setembro de 2014, contra a guerra na Ucrânia e a anexação da Crimeia.
“Nemtsov não podia ser comprado. Não podia ser intimidado. Não podia ser forçado a sair. Por isso, foi morto. A 27 de fevereiro de 2015, ao fim da tarde, com balas nas costas, na ponte Bolshoy Moskvoretsky”, atirou.
ДЕСЯТЬ ЛЕТУ России было много исторических развилок, но ни одна не была такой персональной.Борис Немцов и Владимир Путин пришли в высшую федеральную власть в один и тот же месяц, в марте 1997-го – Немцов первым вице-премьером, Путин заместителем главы президентской… pic.twitter.com/D4kHpbHXRs
— Vladimir Kara-Murza (@vkaramurza) February 27, 2025
Kara-Murza – que chegou a ser condenado a 25 de anos de prisão na Rússia, mas foi libertado numa troca de prisioneiros com o Ocidente no ano passado – questionou “como seria o nosso mundo se o seu maior país tivesse sido liderado não por um ‘chekista’ que sonhava com a antiga “grandeza” do império soviético, mas por um homem cujo objetivo principal e imutável, nas suas próprias palavras, era ‘viver numa Rússia livre, europeia e democrática'”.
“Há dez anos que detesto o mês de fevereiro. Nestes dias, folheio sempre os livros que Nemtsov me ofereceu e assinou durante os anos da nossa amizade e trabalho em conjunto. Num deles está escrito: ‘Com a confiança de que vamos vencer’. Continuo a querer acreditar nisso”, concluiu o crítico do Kremlin.
Boris Nemtsov, de 55 anos, estava a passear na Grande Ponte de Pedra com a namorada, a ucraniana Anna Durytska, quando foi atingido por quatro tiros nas costas, o que provocou a sua morte.
Em junho de 2017, cinco homens da república russa da Chechénia foram condenados a penas entre 11 e 20 anos pelo assassínio do opositor russo em troca de 15 milhões de rublos (cerca de 164 mil euros).
Nemtsov foi vice-primeiro-ministro no final da década de 1990, antes de se juntar à oposição. Era um dos opositores mais contundentes do presidente russo, Vladimir Putin, e, aquando da sua morte, ocupava o cargo de deputado no parlamento da região Yaroslavl e co-presidia ao partido RPR-Parnas.
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