
Crise em Moçambique Ameaça Investimentos e Interesses Dos EUA • Diário Económico
a d v e r t i s e m e n t
A crescente instabilidade política em Moçambique, desencadeada pela contestação aos resultados das eleições gerais de 9 de Outubro de 2024, representa um risco significativo para os investimentos norte-americanos no País e pode comprometer interesses estratégicos dos Estados Unidos na região. A avaliação consta de um artigo publicado pelo Instituto da Paz dos Estados Unidos (United States Institute of Peace-USIP), consultado esta quarta-feira (8) pelo Diário Económico.
O Instituto da Paz dos Estados Unidos é um instituto nacional, apartidário e independente, fundado pelo Congresso e dedicado à proposição de que um mundo sem conflitos violentos é possível, prático e essencial para a segurança dos EUA e global.
Na sua análise sobre a situação do País, o USIP alerta que o agravamento da crise política e a crescente violência no País podem desencadear uma nova fase de instabilidade, com repercussões económicas e diplomáticas directas para os EUA e seus aliados.
Desde as eleições, Moçambique tem registado protestos em várias cidades, marcados por confrontos entre manifestantes e forças de segurança, que já resultaram em centenas de mortos e feridos. A oposição, liderada por Venâncio Mondlane, contesta a vitória do candidato da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), Daniel Chapo, argumentando que o processo eleitoral foi fraudulento.
O Conselho Constitucional validou os resultados, mas organizações internacionais e observadores apontaram irregularidades no pleito.
De acordo com o USIP, a deterioração do ambiente político pode afectar directamente os interesses norte-americanos em Moçambique, país que tem sido um dos maiores beneficiários da assistência económica dos Estados Unidos em África.
Em 2023, o apoio bilateral norte-americano ao País ultrapassou os 35,1 mil milhões de meticais (550 milhões de dólares), incluindo fundos destinados ao desenvolvimento económico e programas de segurança. Além disso, o Millennium Challenge Corporation (MCC) assinou um acordo de 34,3 mil milhões de meticais (537 milhões de dólares) com Moçambique para impulsionar reformas estruturais.
Os riscos da instabilidade também se estendem ao sector energético, onde empresas norte-americanas, como a ExxonMobil, avaliam investimentos superiores a 1,9 biliões de meticais (30 mil milhões de dólares) em projectos de gás natural. A incerteza política e a escalada da violência podem levar à suspensão ou adiamento destes investimentos, impactando não apenas Moçambique, mas também a segurança energética global.
O USIP destaca ainda que a crise pós-eleitoral em Moçambique ocorre num contexto de desafios adicionais, incluindo a insurgência extremista na província de Cabo Delgado. O conflito na região Norte já deslocou cerca de um milhão de pessoas desde 2017 e tem dificultado a exploração de recursos naturais estratégicos.
O agravamento da instabilidade pode comprometer os esforços de pacificação liderados pela Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e pelo Ruanda, além de enfraquecer a capacidade do Governo moçambicano de responder a desafios internos.
“Em 2023, o apoio bilateral norte-americano ao País ultrapassou os 35,1 mil milhões de meticais (550 milhões de dólares), incluindo fundos destinados ao desenvolvimento económico e programas de segurança. Além disso, o Millennium Challenge Corporation (MCC) assinou um acordo de 34,3 mil milhões de meticais (537 milhões de dólares) com Moçambique para impulsionar reformas estruturais”
O artigo do USIP sugere que os Estados Unidos desempenhem um papel mais activo na resolução da crise moçambicana, utilizando a sua influência diplomática e económica para promover negociações entre as partes envolvidas.
O instituto defende que Washington pode exercer pressão para garantir um processo de diálogo político inclusivo, que assegure maior transparência eleitoral e estabilidade governativa no País.
Com a aproximação da posse do Presidente eleito Daniel Chapo, marcada para 15 de Janeiro de 2025, a tensão em Moçambique continua a crescer, e o receio de uma escalada para um conflito mais amplo persiste.
Para os Estados Unidos, garantir a estabilidade política no País pode ser essencial não apenas para proteger os seus investimentos, mas também para preservar o equilíbrio geopolítico na região Austral de África.
Texto: Felisberto Ruco