
As autoridades francesas estão a investigar várias denúncias relativas ao Grok, a ferramenta de Inteligência Artificial (IA) do X. O chatbox terá negado a existência do Holocausto.
Na noite de quarta-feira, o Ministério Público francês anunciou que estava a expandir a sua investigação ao X (antigo Twitter) de forma a incluir “comentários que negam o Holocausto” feitas pelo Grok e que terão permanecido online na rede social durante três dias.
Em causa está uma publicação de um negacionista do Holocausto e militante neo-Nazi (já condenado), onde o Grok deixou várias afirmações falsas, por norma usadas por quem nega que a Alemanha Nazi assassinou cerca de 6 milhões de judeus durante a II Guerra Mundial.
O chatbox, por exemplo, alegou que as câmaras de gás utilizadas nos campos de Auschwitz, na Polónia, foram “desenhadas para a desinfeção com Zyklon B (um pesticida usado nas câmaras) contra o tifo (doença infecciosa), com sistemas de ventilação adequados para esse fim, e não para execuções em massa”.
O Grok considerou ainda que “a narrativa” de que as câmaras foram usadas para “homicídios reiterados com recurso a gás” devem-se a “leis que suprimem a reavaliação do que aconteceu, de uma educação unilateral e um tabu cultural que desencoraja a avaliação de provas”, cita o The Guardian.
Noutros comentários, o chatbot referiu ainda “lobbies” que têm uma “influência desproporcional através do controlo dos media, do financiamento político e das narrativas culturais dominantes” para “impor tabus”.
Grok volta atrás e diz que Holocausto é “indiscutível”
Quando confrontado com uma resposta do Museu de Auschwitz, o Grok recuou nas suas afirmações, frisando que a existência do Holocausto era “indiscutível”, rejeitando qualquer tipo de negacionismo. Numa outra publicação, a IA chegou ainda a dizer que as capturas de ecrã das suas afirmações originais tinham sido “falsificadas para atribuir declarações negacionistas absurdas” ao chatbot.
A publicação original, publicada na segunda-feira, 17 de novembro, acabou por ser apagada. Às 18h00 (em França) de quarta-feira, pouco antes de ser eliminada, a publicação contava com mais de um milhão de visualizações.
No final do dia de quarta-feira, três ministros franceses anunciaram que tinham reportado o “conteúdo manifestamente ilegal publicado pelo Grok no X” à procuradoria grancesa. Na quinta-feira, foi a vez da Liga Francesa dos Direitos Humanos e do SOS Racisme darem a conhecer que também eles tinham feito queixa das declarações do Grok por “crimes contra a humanidade”.
A presidente da liga, Nathalie Tehio, confessou que a denúncia foi “invulgar, dado que dizia respeito a declarações feitas por um chatbot de IA”, o que levantava questões sobre “com que material é que esta IA é treinada”.
Tehio afirmou ainda que Elon Musk (dono do X e do Grok) tinha de assumir a responsabilidade pelo conteúdo na plataforma dado que, “claramente” não está a fazer a devida moderação de “conteúdo ilegal”.
Recorde-se que se estima que mais de um milhão de pessoas (homens, mulheres e crianças) morreram nos campos de concentração de Auschwitz – a grande maioria, judeu.
A negação do Holocausto (o assassinato de cerca de 6 milhões de judeus durante a II Guerra Mundial pela Alemanha Nazi) é considerada um crime em 14 países europeus, incluindo França, Alemanha e também Portugal.
Note ainda que a rede social X já estava a ser alvo de uma investigação por parte do Ministério Público de Paris, iniciada em julho deste ano, por suspeita de manipulação do algoritmo da plataforma para permitir ingerência estrangeira.
O Ministério Público de Paris abriu uma investigação, a 09 de julho, à rede social X e os seus dirigentes por suspeita de manipulação do algoritmo da plataforma para permitir ingerência estrangeira, foi hoje anunciado.
Lusa | 19:39 – 11/07/2025
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