advertisement Os ataques terroristas em Cabo Delgado conhecem uma nova vaga de violência, com relatos crescentes de pilhagens, sequestros e destruição em várias localidades do norte da província. O ministro da Defesa Nacional, Cristóvão Chume, reconheceu esta quarta-feira, 24 de Setembro, publicamente o agravamento da situação, alertando que os grupos armados têm intensificado as suas acções para garantir recursos logísticos e chegam a exigir até 200 mil meticais pelo resgate de reféns. Segundo o governante, citado pelo jornal O País, os ataques concentram-se, em particular, em Mocímboa da Praia, uma das zonas mais afectadas desde o início da insurgência em 2017. “A reacção imediata dos terroristas é mesmo a de tentarem também atacar algumas zonas, particularmente em Mocímboa da Praia, em busca de mantimentos, mas também de recursos, sobretudo financeiros, para continuarem a assegurar a sua logística. E, nesta intenção de assegurar a sua logística, quando conseguem, raptam cidadãos nacionais para depois pedirem resgate. Infelizmente, este fenómeno, temos assistido desde os finais do ano passado”, afirmou Cristóvão Chume. Os alvos preferenciais dos insurgentes são transportadores e passageiros que circulam sem a protecção das Forças de Defesa e Segurança (FDS), sobretudo na Estrada Nacional 380 (EN380), uma das principais vias de acesso à região norte. “Tem acontecido várias vezes, quando as pessoas não estão a transitar com a protecção das Forças de Defesa e Segurança”, reforçou o ministro. A confirmação de que os raptos se tornaram uma táctica recorrente desde finais de 2024 surge num momento de crescente preocupação da sociedade civil e da comunidade internacional, que tem alertado para o impacto humanitário da violência armada na província. Além de mortes e deslocações forçadas, as exigências de resgate colocam famílias sob enorme pressão económica. Questionado sobre a situação de 300 desmobilizados que, após um ano de combate na base de Catupa, foram retirados sem receber qualquer pagamento, Cristóvão Chume esclareceu que aguarda um relatório detalhado das Forças Armadas antes de se pronunciar em definitivo. “Prefiro aguardar o relatório que solicitei às Forças Armadas, para podermos, com maior propriedade e objectividade, responder ao público”, explicou. O ministro sublinhou que o processo de desmobilização decorre por iniciativa do próprio militar ou das Forças Armadas, quando se conclui que o combatente não reúne perfil para continuar ao serviço. “Do que eu sei, grande parte dos jovens têm pedido para não voltar às Forças Armadas”, referiu. Cristóvão Chume recordou ainda que, de acordo com a legislação vigente, os militares desmobilizados não podem ser readmitidos ao serviço, salvo por convocação oficial do Ministério da Defesa, algo que não ocorreu durante o seu mandato. As declarações foram proferidas à margem das Jornadas Científicas da Universidade Pedagógica de Maputo, evento em que o ministro abordou o legado da luta de libertação nacional e a sua importância para a construção da paz e da cidadania activa. A província de Cabo Delgado continua a ser palco de uma insurgência armada iniciada em Outubro de 2017, que já provocou milhares de mortes e mais de um milhão de deslocados internos. Apesar da presença de tropas nacionais e de forças do Ruanda, os ataques têm-se intensificado em 2025, pondo à prova os esforços de pacificação e reconstrução da região.advertisement