
O Legado de um Analista de Crises • Diário Económico
a d v e r t i s e m e n tNum momento em que Moçambique enfrenta incertezas económicas e sociais decorrentes da tensão pós-eleitoral, o pensamento de Ben Bernanke (Nobel de Economia em 2022) poderia emergir como uma lente crucial para compreender as crises financeiras.
A história económica moderna não estaria completa sem a contribuição de Ben Bernanke, cujas pesquisas académicas e actuação política ajudaram a moldar a compreensão das crises financeiras.
Desde a Grande Depressão da década de 1930 até à crise financeira global de 2008, o seu trabalho oferece um quadro teórico robusto e prático para lidar com choques económicos. Para países como Moçambique, que enfrentam problemas fiscais e de confiança, as ideias de Bernanke fornecem lições valiosas.a d v e r t i s e m e n t
O economista e a crise: uma perspectiva histórica
Ben Bernanke ganhou notoriedade no mundo académico pelos seus estudos sobre a Grande Depressão da década de 1930. Em 1983, o economista argumentou que o colapso do sistema bancário teve consequências monetárias, mas também estruturais para a economia real, ampliando os efeitos da depressão.
Esta linha de pensamento foi um pilar central da sua liderança da Reserva Federal norte-americana (Fed), entre 2006 e 2014. Quando enfrentou a crise de 2008, por exemplo, implementou políticas monetárias não convencionais, como a flexibilização quantitativa. Na prática, consistiu na compra de títulos de longo prazo, no mercado aberto, ou até mesmo de títulos comerciais, a fim de aumentar a oferta de moeda e, assim, incentivar empréstimos e investimentos. A compra dos títulos acrescenta dinheiro “novo” para a economia e serve para baixar as taxas de juro. Foi assim que a Fed, liderada por Bernanke, ajudou a estabilizar os mercados financeiros e impulsionou a recuperação económica.
Impacto nas políticas governamentais e empresariais
A abordagem de Ben Bernanke não se limitou ao contexto norte-americano. As suas ideias influenciaram respostas globais a crises na Zona Euro e em economias emergentes. A base das suas propostas era clara: em tempos de crise, é fundamental garantir liquidez e restaurar a confiança no sistema financeiro para evitar um colapso mais amplo.
As empresas também encontraram nas ideias de Bernanke um guião para navegar em tempos de incerteza. Por exemplo, ao destacar a importância de redes de crédito resilientes, o Nobel ajudou gestores a redesenharem estratégias de risco e resiliência corporativa.
Livros de Bernanke: pontes entre academia e prática
Entre as publicações mais destacadas do economista constam “Essays on the Great Depression” (Ensaios sobre a Grande Depressão), do ano 2000, uma compilação de estudos que examina as causas e consequências da Grande Depressão, e “The Courage to Act” (A Coragem de Agir), de 2015, uma memória da sua liderança na Reserva Federal, que detalha as respostas à crise financeira de 2008. Estas obras servem tanto para especialistas quanto para leigos interessados em compreender os meandros das crises económicas e as medidas necessárias para mitigá-las.
Economistas pelo mundo continuam a debater as ideias de Bernanke, adaptando-as a contextos locais. No caso de Moçambique, podem ajudar a construir um caminho sólido para o crescimento
Outro livro menos conhecido, “Inflation Targeting”, de 1999, escrito em co-autoria com outros economistas, discute a relevância das metas de inflação como instrumento para estabilizar economias em tempos de turbulência. Esta obra foi especialmente influente na definição de políticas monetárias nos mercados emergentes.
Visão de Bernanke como fonte de inspiração
Como Nobel de Economia em 2022, Bernanke reafirmou a sua posição como figura central no debate económico global. O seu trabalho continua a inspirar novos estudos. A pandemia da covid-19, por exemplo, trouxe novos problemas relacionados com questões levantadas por Bernanke nos estudos sobre liquidez e estabilidade financeira.
Economistas em todo o mundo continuam a debater as ideias de Bernanke, adaptando as suas lições a contextos locais. No caso de Moçambique, as ideias podem ajudar a construir um caminho mais sólido em direcção ao desenvolvimento económico sustentável.
Críticas ao pensamento e medidas de Ben Bernanke
Apesar dos seus contributos, Ben Bernanke também é alvo de críticas. Alguns economistas argumentam que a sua resposta à crise de 2008 beneficiou desproporcionalmente grandes bancos em detrimento das famílias e das pequenas empresas. Além disso, entendem que a política de taxas de juro baixas prolongadas contribuiu para novas bolhas especulativas.
Outra crítica comum relaciona-se com a falta de soluções estruturais para problemas como a desigualdade económica. Embora as suas políticas tenham estabilizado mercados, muitos questionam se poderiam ser eficazes em economias mais frágeis ou menos desenvolvidas, como a de Moçambique.
Porquê Nobel da Economia em 2022?
Ben Bernanke partilhou a distinção com outros dois economistas: Douglas Diamond e Philip Dybvig. Os três vencedores do Prémio Nobel de Economia de 2022 notabilizaram-se pelos estudos sobre bancos e crises financeiras.
O reconhecimento a Bernanke deveu-se ao seu artigo de 1983, em que demonstrou que corridas bancárias levaram a falências no sector e que este foi o mecanismo que transformou uma recessão comum na Grande Depressão.
Texto: Celso Chambisso • Fotografia: D.Ra d v e r t i s e m e n t