Investigadores europeus anunciaram o desenvolvimento de uma ferramenta de Inteligência Artificial (IA) capaz de prever o risco de desenvolvimento de mais de 1000 doenças, com base em padrões identificados em registos médicos. Batizada de Delphi-2M, a tecnologia utiliza métodos semelhantes aos dos modelos de linguagem generativa, como o ChatGPT, mas focados na análise de dados clínicos e históricos dos pacientes.
A iniciativa foi liderada pelo Laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL), em parceria com o Centro Alemão de Investigação do Cancro (DKFZ) e a Universidade de Copenhaga. Segundo os cientistas, o objectivo é permitir intervenções médicas mais precoces e melhorar a gestão a longo prazo dos recursos hospitalares.
A ferramenta foi treinada com informações de mais de 400 mil participantes do estudo UK Biobank, no Reino Unido, e validada com registros médicos de 1,9 milhão de pacientes na Dinamarca. O modelo considera diagnósticos anteriores, eventos médicos importantes e factores de estilo de vida, como tabagismo, obesidade, consumo de álcool, idade e sexo, para prever a probabilidade de desenvolvimento de doenças ao longo dos anos.
O sistema não fornece datas exactas, mas calcula probabilidades futuras, semelhante a uma previsão meteorológica: por exemplo, indicando uma probabilidade de 70% de um indivíduo desenvolver diabetes tipo 2 nos próximos 10 anos.
Entre as doenças com maior precisão de previsão estão diabetes tipo 2, ataques cardíacos, cancros, doenças respiratórias e sépsis. Condições de origem mais aleatória, como infecções agudas, são menos previsíveis.
“Não se trata apenas de prever uma doença específica. Podemos analisar todas ao mesmo tempo e para prazos mais longos. Isso é algo inédito.”
Embora ainda não esteja pronto para uso clínico, o Delphi-2M promete avanços significativos. No futuro, poderá ser incorporado aos sistemas de saúde para identificar pacientes de alto risco e oferecer tratamentos preventivos mais personalizados. Além disso, permitirá que hospitais e autoridades de saúde planeiem a demanda futura com base em estimativas da incidência de doenças em regiões específicas.
Para Moritz Gerstung, chefe da divisão de IA em oncologia do Centro Alemão de Investigação do Cancro (DKFZ), a ferramenta representa uma nova abordagem para analisar padrões de saúde. Segundo os investigadores, modelos generativos como o Delphi-2M contribuem para a compreensão da progressão da doença e podem ser aplicados em estudos populacionais e estratégias de planeamento de saúde.
Segundo Ewan Birney, diretor interino do EMBL, o potencial da ferramenta reside justamente em sua abrangência: “Não se trata apenas de prever uma doença específica. Podemos analisar todas ao mesmo tempo e para prazos mais longos. Isso é algo inédito.”
Embora os resultados sejam promissores, os investigadores enfatizam que o uso clínico da ferramenta ainda requer aperfeiçoamento e testes rigorosos, bem como regulamentação ética. Um dos desafios é que o modelo foi treinado principalmente com dados de pessoas entre 40 e 70 anos, o que pode limitar a sua aplicabilidade a outras faixas etárias.
A equipa está actualmente a trabalhar para integrar dados mais complexos no sistema, como imagens médicas, análises genéticas e exames de sangue, o que poderia aumentar ainda mais a precisão das previsões.
Fonte: Época Negócios